sexta-feira, 28 de setembro de 2012

O velho e o mar


Amado Cícero, que sempre estará em nossos corações
Foi em um dos mergulhos que diariamente me dava de presente, nos intervalos entre o mexer e remexer de panelas, que um senhor de barba branca e longa me olhou e prenunciou: “isso porque tu não conheces ainda as delícias do inverno de Zimbros”.  Era Cícero Dobner. Em primeira instância, para mim, era o  personagem de ‘O velho e o mar’ - obra de ficção de Hemingway.
O inverno chegou. E passamos a viver intensamente os encantos que a estação proporciona. Ele tinha razão. Quantos banquetes realizamos juntos, a 4, 6, 8...mãos. O resultado sempre surpreendia. Apesar do frio, os frutos do mar são mais abundantes e diversos, assim como as horas do dia, que parecem nunca ter fim. Então, ao lado de Tais, Mabel, Rafael e todos os ‘refugiados’ que moram naquele paraíso e se reúnem na Pousada Zimbros, agregávamos os ingredientes e, ......o festim iniciava.
Logo descobrimos que Cícero já havia sido ‘o homem do mar’, mas as circunstâncias da vida preservarem nele apenas a aparência.  
Ao lado da comunidade local e dos Dobner que, desde então, nos acolheram como se fossemos da família, sempre compartilhamos refeições memoráveis. O sustento dos encontros era resultado do trabalho dos verdadeiros homens do mar da comunidade zimbreira. Mas nossos pratos eram impregnados de sabor com as  iguarias por eles capturadas.
A especialidade do engenheiro Cícero na cozinha era a moqueca. Colocava num grande caldeirão os ingredientes escolhidos, cortados e servidos por Tais, sua esposa. Aliás, foi a primeira delícia que degustamos juntos. Já a última, foi em janeiro, um arroz de polvo, saboreada por ele com sua voracidade típica, como se nunca tivesse comido nada na vida. 
Hoje, recebemos a notícia que nosso grande amigo Cícero se foi. Mas, juntos com Taís, seus filhos Mabel e Rafael,  sua pequena neta Maria e todos os queridos integrantes da família de Maria de Zimbros (Taís), perpetuaremos para sempre as delícias do inverno de Zimbros.  E lembraremos para sempre de sua frase mais repetida, que vinha repleta de som e fúria: "o que tem para comer Tais'?


Cícero, Mabel e Rafael





Arroz de Polvo
300 grs de arroz branco
2 kg de polvo (dois polvos de cerca de 1 kg cada)
100 ml de azeite de oliva
3 cebolas picadas
1 lata de tomates pelados, com a polpa
caldo do cozimento do polvo – 1 xíc. de arroz para três de caldo
1 maço de brócolis – só as flores bem picadas
3 talos de aspargos frescos picados cozidos previamente no vapor por 5 minutos
1 pimenta dedo de moça sem sementes, bem picada
200 ml de vinho tinto seco
2 ovos cozidos picados
sal, pimenta do reino
páprica picante
Modo de Preparo – Lave o polvo muito bem em água corrente. Coloque-os numa panela de pressão cobrindo-os com água fria até cerca de 3 dedos acima dos moluscos. Após a panela pegar pressão, cozinhe 10 minutos e desligue. Retire o polvo, lave-os e retire a pele cuidando para não remover as ventosas. Corte os tentáculos em pedaços de 3 cm, preservando o rabo um pouco maior para decorar o prato. Reserve o caldo em que foi cozido.
À parte, em uma panela de fundo grosso e alta, aqueça parte do azeite e doure a cebola e a ‘dedo de moça’. Acrescente os tomates e a páprica e cozinhe por cerca de 15 minutos, até desmanchar bem. Acrescente o vinho, mais uns minutos até evaporar o álcool. Coloque 50% do polvo picado e, em seguida, o arroz. Refogue tudo mais uns 5 minutos e acrescente o caldo aos poucos, até o arroz estar ao dente. Coloque os demais pedaços do polvo e o aspargo picado. Não esqueça de reservar os rabos dos tentáculos. Desligue o fogo. Coloque tudo numa terrinê com o brócolis picado e o ovo. Regue com bastante azeite de oliva, tampe a terrine e coloque para aquecer no forno a 180°, por aproximadamente 10 minutos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Gostaria de saber se o sr. Cícero Dobner é o mesmo que trabalhou em um escritório de contabilidade em S.Paulo, nos anos de 1969/70 e cujo pai era dono de uma farmácia em SC. Grato.

teto disse...

Sim ele mesmo,o seu pai tinha uma farmácia.