sábado, 31 de janeiro de 2015

Pão Anfitrião: farinha, água e fantasia, no caso, malte

Devo mais este experimento de farinhas (integral e branca 00), água e fantasia (nesta ocasião, malte) aos dedicados cervejeiros da cervejaria Anfitriã, que têm como líder o capitão Rodrigo, querido amigo, que se aplica, com vivacidade, a tudo que faz. Antes de debruçar-se aos estudos para a produção de cervejas, esmiuçava a fermentação dos pães, arte sempre partilhada comigo, inclusive em uma das fermentações de massa mãe - cultura caseira das leveduras -, que me acompanha até hoje.
Para este preparo, os ‘anfritões’ me cederam parte do mosto (mistura de maltes triturados com água), sobras de uma leva de Ametista (IPA) feita com maltes pilsen e amber. Tendo em mãos esta verdadeira joia, apenas uni meus conhecimentos adquiridos para preparar um pão de malte, repleto de fibras, com casca crocante e miolo macio. Hoje, preparei dois formatos diversos, mas a próxima fornada serão pequenos nacos para serem recheados com embutidos, legumes, folhas da horta e, ainda, bolinhos de Santo Abade, preparados com três tipos de carnes moídas  (boi, mortadela mais lombo de porco). Pronto. Uma dica do cardápio dos primeiros happy hours mensais que vão ocorrer no Pastifício.
Ingredientes
500 gramas de malte de cevada moído. Para a formada do dia, o mosto usado foi o de uma leva de Cerveja Ametista IPA, feita com maltes pilsen e amber.
700 gramas de farinha integral pura
3 colheres de açúcar mascavo
300 gramas de farinha de trigo forte 00
25 gramas de fermento biológico
400 ml de água em temperatura ambiente
5 colheres de sopa de azeite de oliva
1 colher de sopa de sal
Modo de Preparo

Agregar as farinhas (integral mais 00) ao malte, repleto de fibras. Agregar o açúcar mascavo, a água, o azeite. Misturar bem. Por último o sal. Sovar até incorporar todos os ingredientes. Descansar por 1 hora. Cortar nos pedaços que desejar enformá-los. Sovar novamente, dispor sobre as formas untadas com azeite, fazer leves cortes na superfície. 
Estes talhos vão proporcionar que o ar saia, conferindo aos pães rusticidade e crescimento superior. 
Cubra-os com um pano e deixe crescer novamente até que dobrem de tamanho. Asse-os em forno pré-aquecido até que fiquem em um tom uniforme. Nos 10 últimos minutos, aumente o fogo para que a parte superior fique dourada e ainda mais crocante. 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Siri Manhoso


Quando criança, ir para o litoral era coisa para profissional. Não tinha essa de ficar se refastelando no sol à espera do bronzeado perfeito que se vai após alguns dias. Nossas escolhas eram a de quem fará qual das atividades lideradas pelo pai, entre elas fisgar peixes com os anzóis das longas linhas saídas dos molinetes; colher mariscos das pedras ou, quem sabe, manusear os puçás pra que voltassem repletos de siris. Como opção, também tinha a caça às rãs das madrugadas. Para tanto, a trupe toda, com a cozinha – na maior parte dos anos assim vividos – era liderada pela vó Maria e pela mãe. Essa etapa consistia, além do rango para alimentar perto de 10 pessoas, contando as cerca de 8h de grandes emoções vividas à beira mar, a limpeza e preparo dos anfíbios, as iscas de massinha para a pesca mais a conservação das carcaças de peixes dedicadas aos siris.

Simples arcos de ferros que amparavam pequenas redes, com a isca no fundo, os puçás sobrevivem aos dias de hoje, podendo ser adquiridos em quaisquer lojas de pesca. Naquele tempo, eram feitos pelo pai, nosso eterno herói.
Àquela época nunca imaginava como eram preparadas as casquinhas de siri, que, por vezes, víamos circular em corredores dos restaurantes onde devorávamos batatas fritas. Mas eram as de verdade. Não as processadas, pequenas porções de massas de batatas boiando em gordura. 
Bolinho de siri
Mas, voltando aos siris, anos depois – já nas alquimias dos panelões -, mais descobertas resultantes de pesquisas feitas na Paulicéia. Ainda longe dos experimentos (custosos à época), mas assídua de cardápios, livros, revistas e crônicas.....descobri as Desfiaderas de Siri. 
Dona Lenir de Oliveira Ceron, 60anos, 52 dedicados à profissão
A carne de siri pura, com alguns nacos de casquinhas, sim. Depois, vieram o antepasto de siri; os mini-bolinhos de siri; o arroz de siri, preparado com a carne dos ‘bichos mais a carcaça, quando se trata de siri-mole (siri-azul), entre outros.
Pastel de siri
Pastel de siri mais Siri Picante -  Do lado de cá dos Açores

Desta feita, ao lado de minha amada amiga Maria de Zimbros (Taís, da Pousada Zimbros), viciada de época nos crustáceos, fizemos uma verdadeira degustação de siri. Para o preparo, alho, cebola, cerca de 1 kg de tomates-cereja da horta da Taís, mais duas pimentas dedo-de-moça da minha horta, de Curitiba para Zimbros. Verde, muito verde (cebolinha e salsinha picadas). Para acompanhar, pão de centeio feito por ela. No outro dia, logo cedo, o preparo de 'siri  picante' que restou viajou e se tornou recheio de pastel, de massa já adquirida pronta, mas frita com todo louvor.
Cinco quilos de siri, bem trabalhados, rende um quilo de carne pura
A iguaria limpa à perfeição é resultado de árduo e moroso trabalho de famílias inteiras, que se dedicam à atividade, com extrema perícia. A desfiadeira Lenir de Oliveira Ceron, 60 anos - 52 deles dedicados à profissão, exerce com extrema habilidade, sempre com um sorriso no rosto, a 'limpa dos bichos', que representa o que há de mais autêntico da cultura açoriana na  gastronomia do estado. “Em média, cinco quilos de siri, bem trabalhados, rende um quilo de carne pura, praticamente sem casquinha (resíduos da carapaça do crustáceo). Se a tarefa  for feita com dedicação, capricho e habilidade, pode ser realizada em uma hora”, detalha Lenir, que tem como ajudantes seus filhos (sete) e o marido. As mulheres desfiam e os homens catam, com o puçá, todos os dia do ano. A exemplo de outros frutos do mar, o siri é muito perecível. "Para garantir a qualidade do produto final, coloco na panela os que chegam vivos e cozinho até dar o ponto. Depois, o próximo passo é lavar em água corrente e colocá-los imediatamente no gelo".Só depois de frios, os crustáceos começam a ser desfiados. 
Siri cozido no próprio caldo 
O siri Candeia* (crustáceo abundante do verão, nas águas de SC) é o mais apropriado para ser degustado naco por naco, já que tem muita carne nas patolas e as carcaças podem ser mordidas inteiras. Como tínhamos um bocado de Candeia fresco separamos quatro 'bichos' para cada pessoa. Numa panela alta, colocamos cebolas, alho-poró em lâminas, alho, sal, pimenta fresca e verde. Depois de 15 minde cocção, com a  panela tampada, acrescentamos uma lata de cerveja e cozinhamos mais 20 minutos. Reza a lenda que a cerveja colabora com a retirada da carne das carapaças. Lenda é lenda. Então, sigo à risca. Resultado da cerveja ou não, a carne saiu facilmente.

Ensaio sobre os sorrisos, de que tanto sinto saudade

Este post não mostra apenas uma receita de comida, mas, também, uma declaração de satisfação pelo que faço, já que considero que a boa comida e o sorriso são inseparáveis. Toda vez que observo alguém degustando algo que preparo percebo um aconchego inigualável. Neste ensaio fotográfico abaixo (com a presença do querido casal Johnny e Célia, pais dos pequeninos Théo e Dora), esse relato é evidente. Cardápio improvisado, um bom vinho e um aquecedor a gás para receber companheiros de vida. Pessoas que vão além do grande amigo, mas que acompanham suas felicidades, dores, sorrisos, intempéries, entre tantas outras coisas. Degustamos a tradicional Minestra de Lentinhas com Costelinhas de porcotorradas (inspiridas nas tradicionais panzanellas do Jamie Oliver), queijos, um carbonara com pancetta. Precisa mais?








Minestra de lentilha com defumados
Ingredientes (para 4 pessoa)
500g de lentilhas
100g de costelinha suina defumada (com os ossos)
Algumas fatias de linguiça calabresa
Suco de uma laranja
1 col de sopa de cominho em pó
1 col de sopa de páprica picante
1 pitada de sal
pimenta do reino moída na hora
5 col de sopa de aziete 
1 litro de Caldo de legumes
2 cebolas
1 punhado de manjericão (cerca de 8 folhas) 
Uma cenoura, cortada  em cubos
Azeite de Oliva
Doure a cebola e a cenoura no azeite de oliva. Acrescente as costelinhas, a calabresa, o cominho e a páprica. Doure alguns minutos e acrecente um pouco de caldo, só para que o sabor dos temperos incorpor às carnes. Coloque as lentilhas e a cenoura em cubos,- frite mais uns 2 minutos . Aí é a vez do suco da laranja e, por fim, o caldo de legumes. Cozinhe em fogo brando, até a lentilha ficar macia e a costelinha tenra, se desprendendo do osso.

sábado, 10 de janeiro de 2015

Com fubá e com afeto

Não é de hoje que, em minha vida, o fubá de milho é emblemático. Sempre foi um componente de receitas carregado de histórias de amizade, de saberes, de sabores e, por vezes, destinado à subsistência. No que se refere à amizade, por ser ingrediente principal do bolo de fubá, se tornou um presente, dos mais requintados. Na década de 70, anos áureos de minha infância, a vizinha Jura preparava uma das melhores versões que já degustei. Duas ou três vezes na semana, a Jura, melhor amiga da mãe, nos chamava para ir buscar a delícia: o cremoso bolo de fubá da Jura. Qualquer naco do quitute exibia camadas diversas, sendo uma delas cremosa, na qual o queijo mais o coco ralados se agregavam proporcionando à delícia um toque salgado. Ainda se tratando de amizade, nossa querida amiga Luzinha, exímia cozinheira, também moradora da Vila Ida, nos presenteia rotineiramente com seus preparos, sempre recheados de saúde, elaboradas sem glúten, pouco açúcar, mas repletos de sabor. Esta semana, a versão da vez também foi a cremosa, com queijo ralado, mas a que prevalece no repertório dela é com sementes de erva-doce, sem o queijo.
Saberes
Dos saberes, ainda hoje, escrevendo este post, não me contive e liguei para a vó Maria. A sábia senhora de 88 anos, que se aposentou como merendeira, a merendeira exemplar, não poupa palavras quando se trata de relembrar histórias de vida. “Minha filha, você lembra quando a vó plantava milho no quintal? No dia que a vó colhia era dia de festa. A vó colocava o panelão no fogareiro do quintal de terra batida, cozinhava e vocês comiam. Enquanto isso, a vó ficava tocando gaitinha de boca pra vocês. Tempo bom. Agora, peço pra alguém me trazer semente pra eu plantar, mas ninguém lembra. Mas já, já a vó consegue e te chama pra panelada de milho”.
Receitas
Bolo de Fubá Cremoso sem Glúten da Luzinha (Lu Martins)
Ingredientes para a primeira etapa
4 ovos
2 xícaras de leite
3 xícaras de açúcar (usei somente 2)
2 colheres (sopa) de margarina
Bata no liquidificador
Passe a mistura para uma tigela e agregue
Ingredientes para a segunda etapa
1/2 xícara de amido de milho (maisena)
2 xícaras de leite
2 xícaras de fubá
1 e 1/2 xícara de coco ralado (+/- 100 g)
1/2 xícara de queijo ralado (50 g)
1 colher (sopa) de fermento em pó.
Apenas misture!
Coloque em uma assadeira grande (40x28cm) untada e enfarinhada (com fubá). Leve ao forno pré-aquecido por 45 minutos ou até que um palito, depois de espetado na massa, saia limpo.
Retire do forno e deixe esfriar.

Bolo de Fubá tradicional da Luzinha (Lu Martins)

4 ovos
2 xícaras (chá) de açúcar 
2 xícaras (chá) de farinha de trigo 
1 xícara (chá) de fubá
3 colheres (sopa) de margarina
1 xícara (chá) de leite
1 colher (sopa) de fermento em pó
Modo de Preparo
Bata as claras em neve. Acrescentar o açúcar.
Adicione aos poucos as gemas, a margarina, o leite, a farinha de trigo, o fubá e continue batendo;
Por último agregue o fermento misturando com uma colher ou espátula;
Coloque a massa numa forma untada e asse em forno médio pré-aquecido por aproximadamente 30 minutos ou até que, ao espetar um palito, este saia limpo.
História
O f
ubá é a farinha de milho ou dearroz obtida a partir da moagem desses cereais. Nas Américas em geral e no Brasil em particular o mais comum é o obtido do milho, que, na história alimentar do país, sempre foi presença na alimentação indígena.