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quarta-feira, 13 de julho de 2016

Desta feita, o mar não está para camarões!!


Daqui, ouço o marulho das ondas. Também ouço a vigília, mesmo que silenciosa, dos profissionais da pesca à espera do momento certo para a adequada colheita dos ‘frutos’ oferecidos pelos oceanos. Cada um deles, ao lado de suas famílias, colocando em prática suas habilidades para tornar o segmento, a cada dia, mais profissional e rentável. Mas, nem sempre o vento sopra a nosso favor.


Desde o primeiro dia do fim do defeso do camarão (01 de junho de 2016), os crustáceos não estão favorecendo o comércio deste tão cobiçado ingrediente. As baleeiras têm voltado leves, sem o montante necessário para que as próximas estações (primavera/verão) iniciem a todo vapor, quiçá para o dia a dia de quem por aqui (em Zimbros/Bombinhas) mantém viva e inabalável a tradição da pesca artesanal. Mas, acredito que nada ocorre em vão e que tudo ainda pode mudar.

Talvez os crustáceos tenham, por algum tempo, decidido mudar de rota.  Ou, desacostumaram com o frio, que havia tempo não chegava igual. Quem sabe, só, somente só, tenham enjoada das tainhas, que proliferam como há décadas não se via por aqui. Fato é que na nossa mesa - companheiros de vida e da rotina destas pessoas - não falta. Certeza também de que aos profissionais da pesca e suas famílias, que nasceram observando o mar, a alegria continua presente. 

Apenas (para quem de longe observa) à espera de que a rotina desses crustáceos volte a prevalecer em alta, beneficiando os mais diversos estados deste nosso país, que deste 'fruto' também fazem seu quinhão.



sexta-feira, 5 de junho de 2015

A primeira tainha do resto de nossas vidas

Ferradura de tainha frita em imersão
Aos que respeitam, o ciclo da natureza proporciona abundância de pescados com a alternância dos ciclos reprodutivos dos frutos advindos do mar. Basta conferir o frescor das tainhas, que nesta época migram para a costa aferindo o espetáculo da natureza em sintonia com a necessidade do homem.


Você encerra um bocado de ideias, soma diversos conceitos, agrega histórias de vida e acaba por conferir, mais uma vez, que é o ciclo da natureza que nos proporciona sabedoria.  E quanto mais perto da natureza estamos mais evidências constatamos. A meu ver é porque mais perto de Deus nos encontramos. Aqui, pelas bandas de Zimbros (Bombinhas/SC), dia 01 de junho a pesca do camarão foi reaberta. 
camarão rosa salteado
A movimentação noturna está a todo vapor. Não é para menos. A maior parte dos moradores deste pequeno paraíso sobrevivem da pesca do crustáceo, que, de 28 de fevereiro a 01 de junho tem a pesca proibida, já que é a época em que as espécies rosa, sete barbas, branco, Santana/vermelho e barba russa se reproduzem nas regiões sul e sudeste do Brasil. Em paralelo, os ventos gélidos que se aproximaram do litoral de Santa Catarina na segunda quinzena de maio proporcionaram, novamente, a migração da tainha para a costa, aferindo, mais uma vez, o ‘espetáculo da natureza’ em sintonia perfeita com a necessidade do homem. 
escabeche de sardinha

Sem falar na abundância da sardinha (por aqui também conhecida por charutinho). O peixe mais rico em omega 3 e outros nutrientes aclamados por nutricionistas para o bom funcionamento do cérebro, formação de neurônios, memória, prevenção de Alzheimer e mais um lista de benefícios, que, literalmente, são encontrados de ‘cabo a rabo’ nas sardinhas. Mas, o principal deles, é o preço, já que é um dos pescados mais acessível em âmbito nacional.

Desta feita, tivemos a sorte de estar em Zimbros no fim do defeso do camarão (01.06), no momento em que as tainhas continuam caindo na tocaia do arrastão – a cada ano em menor quantidade (as da vez estão vindo de Floripa. Para os pescadores daqui os cardumes ainda não deram as caras). Para arrematar, ainda há alguns dias para o fechamento da sardinha, a qual, dias destes, rendeu um escabeche sem igual, que até já recebeu nome: Pressão na sardinha, feitas na panela de pressão.
No mais, o pedido para o pescador da vez é uma tainha cortada em ferradura - cortada na transversal, com nacos de, em média, 4 cm. para que preserve a umidade no seu interior e a crocância da pele, que, à primeira vista, remete à pururuca perfeita de m leitão. Para completar,  ovas separadas para o preparo de uma farofa, um arroz branco e um verde. Precisa mais?

 “Mas se Deus é as flores e as árvores; E os montes e sol e o luar; Então acredito nele, Então acredito nele a toda a hora, E a minha vida é toda uma oração e uma missa, E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos. Mas se Deus é as árvores e as flores; E os montes e o luar e o sol, Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar”...(trecho do poema ‘O guardador de rebanhos, de Alberto Caeiro, um dos heterônimo de Fernando Pessoa)  

sexta-feira, 30 de maio de 2014

TAINHAS À MESA

Ventos gélidos trazem tainhas para as costas catarinenses
Os ventos gélidos que se aproximaram do litoral de Santa Catarina na segunda quinzena de maio deste ano proporcionaram, novamente, a migração da tainha para a costa, aferindo, mais uma vez, o ‘espetáculo da natureza’ em sintonia perfeita com a necessidade do homem. Ao anunciar sua chegada, o vento sul que sobe o litoral catarinense e encosta nas praias com o vento nordeste, proporciona uma movimentação não só em torno dos que aguardam o momento de armar o arrastão, mas também em torno da segurança das baleeiras que já estão na água à espera de retomar a pesca do camarão (01 de junho - fim do defeso).
Como preparar
Assim como os pescadores, apreciamos o ‘fruto’ do arrastão (quando recém-saído do mar)  preparado de forma simples, com sabor ainda d’água salgada e gélida do oceano Atlântico, com suas ovas* preparadas à parte. 
Basta tirar as escamas e a barrigada, cortá-la em 'ferraduras' grossas. Depois, temperar os nacos com sal, pimenta do reino e manjericão rasgado com as mãos. Para finalizar passar rapidamente na farinha de trigo e fritar em imersão. O resultado é incrível, sabor único, quando se trata de peixes. A carne preserva a umidade interna e a pele permanece crocante. 

A produção de tainha é voltada para o mercado interno. Entretanto, o mais valioso na tainha não é a sua saborosa carne, mas as suas ovas, que são exportadas para países como Taiwan, França, Grécia, Itália e Espanha. O resultado é a a Bottarga. ...resumindo: a tradução de Bottarga (palavra italiana) é ova*.
Arrastão da tainha
Apenas um dos acontecimentos que quando realizados em consonância entre homem e natureza, emocionam profundamente. Basta sentar-se à beira mar, quando o arrastão tem início, e os olhos não conseguem mais desprender a atenção do cenário que se tem à frente. Quando o arrastão é feito com raios de sol no céu resplandecendo nas marolas do mar, a paisagem se torna ainda mais inesquecível, já que o tom prata das dezenas e dezenas de tainhas presas à rede reluzem transformando o oceano em um mar de prata, que cintilam n'alma. 



As delicadas, harmoniosas e melancólicas letras de Dorival Caymmi retratam o universo que gosto de viver, à beira mar e ao lado dos profissionais do mar.....















https://www.youtube.com/watchv=C0rYfHkRv6s&feature=kp

"O bem do mar é  o mar é mar...que carrega com a gente pra gente pescar...
https://www.youtube.com/watch?v=F1hA_ltXgZg&list=RDC0rYfHkRv6s&index=2

Saberes nativos incorporam formidavelmente noções de física ......


Bottarga
A tradução da palavra italiana é ova, mais especificamente, ovas de tainhas. Lá, no país da bota, o ingrediente é utilizado em díspares receitas, assim como os italianos, só como os italianos, sabem ser e viver.
Formas de preparo da Bottarga:
https://www.youtube.com/watch?v=mCnSoAMA8zg#t=193

ou, ainda, à moda italiana 'Bottarga come si fa a casa'
https://www.youtube.com/watch?v=0AQ_tuRX5AM

Un altro esempio di preparazione vera italiana:

https://www.youtube.com/watch?v=RcrZ5uFD71I
Linguini com vôngoles salteados em vinho branco, alho, salsinha e pimenta calabresa seca, finalizado com bottarga ralada



sexta-feira, 2 de maio de 2014

Pescadores II: os autores e atores do espetáculo marinho à mesa


Em Santa Catarina (SC) é período de defeso do camarão - de 28 de fevereiro a 01 de junho a pesca é proibida, já que é a  época em que as espécies rosa, sete barbas, branco, santana ou vermelho, e barba russa se reproduzem nas regiões sul e sudeste do Brasil. Assim, as baleeiras ficam sem função, bem como os seus ‘comandantes’. Enquanto isso, as tradicionais embarcações destinadas à pesca dos crustáceos são restauradas, ganham cores diversas, cascos renovados com madeira propícia e os nomes de cada barco recebem atenção especial. Ahhhhhhhhh, os nomes.... ainda mais brilhantes  às das cores da própria embarcação, que  sempre homenageiam alguém - seja um grande amor; família; filho (a).......

No município de Bombinhas, em Zimbros, há um espaço lúdico que acomoda, no defeso,  cerca de 400 baleeiras. O local faz os menos dos comoventes dos seres humanos se emocionarem. Lá, cada pescador é responsável pela sua ‘nave’, que os faz aguentar firme o período do defeso. Antes do retorno ao trabalho para os que sobrevivem da pesca informal, a realidade para a maioria é mesmo de dias muito difíceis. Então, a criatividade  para sobreviver no período cabe a cada um, que fazem  das cores e nomes das embarcações atrativos a parte para alegrar a família. A dedicação é total.


“Os dias passam rápidos demais pra tanto que temos de fazer, cada qual com seu dever”, conta um dos locais, enquanto cuida da sua embarcação. Sabem que elas vão gerar o sustento nos meses subsequentes.
No espaço, cedido pela prefeitura de Bombinhas, dezenas de baleeiras fascinam e emocionam......sabe-se que lugares como estes são raros...Aí, quanto mais consciência, maior o sofrimento. Então, o bom mesmo, é ouvir as prosas, as músicas que cada qual coloca ao lado de sua baleeira, enquanto as crianças, embaixo de cada uma delas constrói os castelos que pretendem ser o de seus futuros......
DA BALEIA AO CAMARÃO - Baleeira é um tipo de barco que só existe em Santa Catarina. Descende de barcos ingleses, mais tarde levados para os Estados Unidos, onde passaram a ser muito usados na caça à baleia pela leveza e boa navegabilidade.
Em tempos idos, estes barcos chegavam ao local da caça a bordo dos navios baleeiros norte-americanos, que pescavam nos mares do sul e faziam escalas nas ilhas dos Açores.

Os açorianos começaram, então, a conviver com as baleeiras, seja porque os marinheiros do arquipélago eram contratados para a caça à baleia, ou porque os barcos acabavam ficando pelas ilhas, como pagamento por serviços e alimentos. Assim aprenderam a reparar e, mais tarde, a construir esse tipo de embarcação. Quando migraram para o Brasil, os açorianos que povoaram o litoral catarinense trouxeram o conhecimento de fabricar e usar a baleeira, que se tornou o barco típico de Santa Catarina para a pesca de camarões