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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Pirão na panela a borbulhar. Tá na hora do rango chegar!!!


Nadar nos oceanos é segurar o ar do mundo e respirar o fundo do mar. Nadar é prender o ar até quanto possa aguentar para avistar os bichos do fundo do mar. Nadar é escutar o som do próprio coração bater enquanto as criaturas marinhas te admiram como o ser estranho entrando nas entranhas do mar. Cozinhar com os frutos advindos dos oceanos é, para mim, misturar os sons dos borbulhares: o das panelas a fervilhar ao dos advindos do fundo do mar. E nada mais reproduz isso como as borbulhas de uma caldo de peixe a pular, agregado ao das farinhas advindas dos monjolos, que  a refinam batendo sem parar. 

Quando este caldo mais a farinha recebem nacos de peixes e pequenos camarões frescos, o resultado é a melhor e mais simples refeição que há.
Pirão* é comida de sustança e de subsistência O pirão - uma pasta saborosa, um tanto grossa feita de farinha de mandioca, ervas frescas, pimenta (a que mais lhe apeteça) e o ingrediente da ocasião resulta dezenas de receitas. Do tradicional pirão d'água; ao pirão de banana-da-terra; do pirão de peixe; do pirão com caldo de feijão; do de mocotó; de carne seca; do da buchada de bode à de boi; ao de tainha  ou o de lagosta. O prato é retrato do nosso país. De norte  sul; de leste a oeste, seja temperado com frutos de águas doce ou salgada; frutos da terra (a exemplo do de banana) o pirão é comida de sustança, de perseverança, de sentir-se forte para aguentar mais um dia de labuta. 


Pirão de peixe com camarão
Ingredientes (para quatro pessoas)
Para o caldo.
Uma dica é picar bem todos os legumes e ervas que for utilizar. Desta forma, quando for passar na peneira para, posteriormente, agregar os nacos de peixe mais a farinha, os sabores estarão mais evidentes.  
- 1 litro de água para o caldo;
- 3 cebolas cortadas grosseiramente;
- 1 cenoura cortadas grosseiramente;
- alho-poró. Se tiver um bulbo, reserve os nacos mais claro, próximos da raiz, para utilizar na finalização; 
- 3 dentes de alho bem picados ou amassados com a lâmina de uma faca;
- 1 maço de salsinha, com os talos, bem picado;
- 1 xícara de manjericão bem picado;
- 4, 5 colheres de azeite;
- Pimenta dedo-de-moça bem picada
- Aparas de peixe, bem lavadas (cabeça - com as bochechas, já nos ensinou um dia nosso amigo Cícero -, e também as espinhas)
- 1 xícara de cabeças camarão, bem lavadas- postas ou cubos de 1 kg de peixe, no caso, fizemos com pescada-olhuda
Para finalizar o pirão
- farinha de mandioca o quanto baste (cerca de 1 mais 1/2 xícara). 
- 1 xícara de nacos de peixe fresco;
- 1 xícara de camarão 
Depois que o caldo estiver peneirado e voltar para a panela com os nacos de peixe mais os camarões, a farinha deve ser agregada aos poucos, sem parar de mexer. Assim, não vai passar do ponto, engrossando em demasia.

*
O termo pirão advém do tupi guarani. Significa papa grossa.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Farinha de milho...para fazer farofa, pra fazer farofa-fa-fa!!!

"Comprei um quilo de farinha, pra fazer farofa, pra fazer farofa, pra fazer farofa-fa-fa"..... a maior parte dos brasileiros já ouviu essa música, de Silvio Brito.
 O som do monjolo  da ‘casa’ da farinha já foi, durante anos, similar ao badalar dos sinos nas madrugadas de infância. Ao amanhecer, o resultado do trabalho de uma das primeiras máquinas utilizadas pelo homem para ajudá-lo em suas tarefas manuais podia ir à mesa. Para começar o dia, farinha de milho em flocos com leite recém tirado da vaca já nos fortalecia – penso que se houver comparação há o sucrilhos com leite.
No almoço, a farinha de milho em biju muitas vezes era o prato principal, de sabor inesquecível. Sabe frango caipira cortado em pedaços, temperado e preparado na panela de ferro, na brasa do fogão a lenha? Então. Depois de estar ao ponto, dourado, com caldo espesso  e um perfume de ervas que se somavam aos da brasa (frango de vó mesmo, que, inclusive, eu ajudava a torcer o pescoço e depenar), o biju era acrescentado em doses moderadas. Assim, a farinha não perdia a crocância e o caldo mantinha o sabor.
Como guarnição, a farinha de milho se transforma em iguaria com couve refogada (farofa de couve); com lâminas de alho e ovos pouco mexidos para preservar alguns nacos (farofa de ovos); com repolho bem laminado.....
Nunca mais vi um monjolo realmente usado no dia a dia. Os estabelecimentos do patrimônio intangível da culinária local do Paraná nos quais vivi intensamente a infância com a respectiva alimentação local ficaram para trás, como artigo decorativo. 
À época, não muito distante, cozer o sangue em caldeirões mexendo sem parar acertando o ponto, conforme o pai comandava, para preparar o chouriço perfeito; ou encharcar uma fatia de ‘pão de casa’ com banha de porco fresca (hoje guardada para o preparo dos mais diversos confit),.....mantinha o povo forte para ir à labuta. Nos tempos de hoje, o colesterol aumenta só de sentir o cheiro de tais ingredientes. O que importa mesmo é preservar e disseminar  o gosto por determinados alimentos, que se modificam com o passar do tempo, mas podem ter espaço garantido na despensa e na nossa memória afetiva.